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A New Partnership
Pierre- Mensagens : 16
Data de inscrição : 18/10/2018
- Mensagem nº2
Re: A New Partnership
Na Neon Lights, naquela noite, Melanie havia dado o alfabeto todo para Owens ir do zero ao cem. Sabia o que tinha que fazer. Agora ela devia ser uma garota mais comportada, mais comedida. Apesar da expressão sapeca continuar em seu rosto naquele momento, ela não respondeu nada ao traficante. Apenas o obedeceu. Com as mãos juntas na lombar, ela foi andando com tranqüilidade atrás dele, passando pela comoção que havia se instalado na boate. Os vivos choravam, ou estavam em choque, ou estavam feridos, ou tudo isso junto. A música cessou, e as luzes pararam de piscar, e agora as lâmpadas iluminavam o palco daquela tragédia. Melanie podia ter tido uma abordagem diferente, não podia? Uma abordagem mais heróica e virtuosa: ela podia ter contado toda a verdade desde que entrou na sala, que a boate sofreria um atentado naquela noite; e se Owens não acreditasse, ela podia ter suplicado a ele de joelhos para que cresse nela, pelo menos só um pouco. Aquela abordagem teria evitado a troca de tiros? Isso é relativo. Eram muitas as variações do futuro, dependeriam da atitude dos capangas de Scott e dos meliantes da AV. Mas pelo menos, Melanie teria sido mais digna. Porém Melanie não almejava dignidade. Perdera a muito tempo, naquele jogo de sobrevivência que tinha sido a sua vida. Restaurá-la seria um trabalho difícil, impossível não, mas convenhamos: ela nunca optou pelo caminho da dignidade, desde o início. Assim que entraram na sala vip e a porta foi fechada, a vidente esperou alguns instantes. Mas não precisava que o traficante pedisse satisfações ou fizesse suas exigências. Ela já sabia o que ele ia falar à seguir: |
- Vamos deixar de lado as frases de efeito, o orgulho, e essa merda toda que impede uma conversa sincera e prática. – dizia ela, enquanto seu sorriso já se mostrava inexistente e uma expressão mais límpida tomava sua face – Olha, eu não te tratei com o devido respeito. Me desculpe. Mas você não ia dar crédito às minhas palavras, nem dar atenção, se eu não provasse o meu valor. |
- O ataque. Era pra você morrer, Owens, você e seus capangas. Fui eu que cagoetei os bandidos do AV para um dos seus caras. |
- Eu vi a sua morte. Da mesma forma que vi a morte do irmão da Jessie, que ia ser traído pelo melhor amigo. – contava ela, andando de um lado para o outro, enquanto passeava não só sob o carpete da sala, mas também sobre a névoa nos seus pensamentos; era difícil separar a verdade da mentira com frieza. Então ela parou e mirou a face de Owens com seus olhos penetrantes – Mas é claro, eu não vim aqui apenas bancar a heroína. Tem um lado que me interessa nisso tudo. |
Detalhe macabro sobre Melanie: ela sentiu muito prazer fazendo isso. Voltando a Scott: no caso dele, ele não era um mero peão, como Dave foi para a vidente ter acesso a Owens. Era uma peça fundamental. Foi por ele que Melanie ansiou em encontrar. A tragédia na Neon Lights não foi uma mentira forjada pela vidente, mas foi um acontecimento de verdade: O AV tinha atacado Scott, e Melanie o salvou. |
- Você com certeza sabe que eu sou uma foragida. E que também tenho a “anomalia genética” ! – nessa hora, ela abriu um sorriso de raiva: esse era o termo que os da classe alta usavam para determinar o que fazia os mutantes diferentes, quando eles queriam ser hipócritas. Por que pelas costas, os chamavam de praga – Mas na verdade eu sou só uma garota. |
- Eu preciso de ajuda. Mas não é de qualquer um. A última vez que eu recebi ajuda foi de Derrick, e foi por causa dele que estou de pé. Mas eu estou prestes a cair de novo. |
- Preciso de você, Scott. E viu o que aconteceu hoje? Posso ser útil. Você também precisa de mim. Quando eu entrei, nem me apresentei direito. Fui tosca. |
- O que acha? Um recomeço, que tal? |
- É um prazer ser recebida por você, Scott Owens. Quanto a mim, pode me chamar de Oracle. |
Última edição por Pierre em Dom Nov 11, 2018 12:26 am, editado 3 vez(es)
Marcus- Admin
- Mensagens : 54
Data de inscrição : 11/10/2018
- Mensagem nº3
Re: A New Partnership
Já dentro de sua sala particular, procura pelo maço de cigarros. Parecia tão focado na atividade a ponto de esquecer Melanie e da necessidade de fazê-la se sentir à vontade naquele lugar desconhecido e, até então, hostil. Talvez Scott fosse anti social, ou não se importasse com regras de convívio e etiqueta... Existia a possibilidade, também, de ele estar tão nervoso com a presença dela que, pelo máximo de tempo possível, preferia evitá-la. |
DanyGSouza- Mensagens : 9
Data de inscrição : 18/10/2018
- Mensagem nº4
Re: A New Partnership
~Aurum~
“Mas o que é isso?” – Pensou enquanto Corey pela primeira vez durante aquele encontro se manifestava de forma tão incisiva. As xícaras sambaram na mesa enquanto a taça vazia se espatifava no chão. Cacos de vidro se espalharam sem cerimônia, enquanto era a vez dele falar com a sua habitual acidez. Aquele era Corey Svenson demonstrando toda a sua impaciência com o cenário que havia se desenrolado. Nem parecia o agente Venon de sempre, aquele que gostava de se gabar dos seus feitos e de humilhar qualquer um que se mostrasse inferior – ali, naquela ocasião, ele mostrava um lado paterno que até então ela jamais vira.
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Pierre- Mensagens : 16
Data de inscrição : 18/10/2018
- Mensagem nº5
Re: A New Partnership
Parecia que uma parede de vidro, que estava a sua frente, havia se levantado pela primeira vez durante aquela conversa, e dado à telepata a oportunidade de conhecer a situação em que se encontrava. Numa outra alusão, podia-se dizer que foi como estar assistindo um programa num canal de televisão, e passar para outro canal, e assistir outro programa. Desligou-se da conversa quando Corey explodiu. Procurava entender o que tinha acontecido, o que havia sido aquela mudança. E as palavras de Corey ficaram pesando em sua cabeça, uma auto-acusação dava força à um sentimento ruim que a loira não conseguia entender. Precisou degustá-lo. Saboreá-lo. Aquilo não era gostoso de se fazer, mas se desejava entender o que o alarme dentro de si significava, precisaria analisar o tal sentimento. |
“O que eu estou sentindo...?” – Pensava, enquanto agora, Corey bronqueava Dominique. |
Enquanto discernia a si mesma, seus olhos claros e gentis, agora perturbados, passeavam pelos cacos de cristal da taça de Dominique, molhados pelo resto do vinho. O primeiro lampejo de luz surgiu em sua mente: era como aquele cenário. Desordem. Bagunça. Da taça de Dominique levantou o olhar para a mesa, mirando as xícaras de café que agora estavam posicionadas desajeitadamente nos pires, local aquele que agora estava enfeitado com algumas poças de café. Foi quando Dominique comentou sobre um telepata, e ficou de pé. |
“Isso. A resposta está na mente dela” – então, sem demonstrar qualquer sinal, Melody invadiu a mente da outra mutante. |
Mas foi preciso. Então ali, a telepata não buscou pelos segredos de Dominique. Ela procurou pelos sentimentos da antiga jornalista, e começou a sentir todos eles. Sentiu a raiva que Hughes guardava por Rosario e pela Primatech. O amor que ela guardava por Derrick, e mais que amor: respeito; honra; saudade. E depois disso tudo, Melody encontrou o que procurava. O sentimento de Dominique Hughes pela causa mutante. Nesse momento, foi impossível não expressar nada. Seu olhar puro mirava o rosto de Dominique, e Melody expressava algo que não podia conter. Sua reação acontecia mediante à alguns fragmentos da vida da misteriosa mulher. Não só sentiu, como viu o quanto Aurum estava imersa naquilo tudo. Então, retirou-se da mente de Dominique; e agora ela entendeu o que estava sentindo. Vergonha. Pela injustiça de ter culpado Dominique pela morte de Derrick, e por tudo de ruim que aconteceu. Por ter sido má, e por ter descarregado seu descontentamento, a sua frustração em cima da Golden Girl. Vergonha por não ter sido eficaz como a antiga companheira havia sido – ou melhor, estava sendo – em relação à causa mutante. Vergonha por ter sido egoísta. Por ter sido mesquinha. De um lado, um sério Corey. Do outro, uma sorridente Dominique. Agora era Melody quem ficava de pé; os olhos estavam cheios de lágrimas, e em sua boca não havia mais nenhuma palavra afiada; ela tinha embainhado a a espada que era a sua língua. |
- Dominique... |
- Eu fui áspera com você, confesso. Não estava pronta para te ver assim, de repente. Não tive tempo para organizar meus pensamentos... Estive esse tempo todo me preparando para o dia em que eu fosse ser útil, o dia em que eu iria me redimir pelo pecado de não ter sido eficaz à quatro anos atrás... |
-... E você chegou trazendo este dia, e eu estava cega de amargura e não vi. A boca fala do que o coração está cheio, e meu coração esteve cheio de amargura contra você por todos esses anos. Mas só agora eu compreendi você, Dominique, desde o primeiro momento que começamos a conversar. |
Afinal, a humildade vem antes da honra. |
- Eu li seus pensamentos. Escutei a voz do seu coração. E você não passa de uma vítima, uma vítima como Derrick foi, uma vítima como eu sou. Uma vítima como os que estão do Outro Lado são. Você estava certa o tempo todo, e eu não quis admitir isso. – incontroláveis, as lágrimas desceram – Por que eu estava cega. |
Pura. Bondosa. Sincera. Amorosa. Sem par. |
- Eu fui tola, não é mesmo? – as lágrimas misturavam-se ao sorriso, e ela secava o rosto com as mãos novamente – Existe um sábio que disse assim: Todos os animais podem ser domados pelo ser humano. A língua, porém, ninguém consegue domar. É um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero. Eu me deixei levar pelo que havia de pior em mim e a minha língua destilou veneno contra você. |
- Há palavras que ferem como espada, mas a língua dos sábios traz a cura. Ainda dá tempo, Dominique? |
Então, Melody fez uma pergunta sublime: |
- Você me perdoa? |
Pierre- Mensagens : 16
Data de inscrição : 18/10/2018
- Mensagem nº6
Re: A New Partnership
Por outro lado, havia a mudança sutil. Dominique deu gargalhadas, e Corey até riria junto com ela – se não fosse o Corey. Ele parou, esperando o que Dominique faria a seguir. O que ela estaria tramando, depois daquela gargalhada tão espontânea? |
“Ou ela vai embora, ou vai ficar. Como vai ser, Dominique?” |
Na hora em que achou que a Golden Girl iria se despedir após concluir o emocionante discurso sobre Derrick Webb, ela tirava da bolsa uma foto de um rapaz com cara de bobo, um pouco loiro, e de aparente vinte anos. |
- Jacob Palmer... – Svenson esqueceu completamente a guerra verbal entre as mulheres. |
Interrompendo sua linha de raciocínio, Melody se colocava de pé. |
“Não acredito... Elas vão continuar?” – Corey ficou incrédulo, tanto que deu um passo para frente, afim de ver melhor o rosto da sua jovem companheira. Porém, assim que viu a expressão tenra em sua face, entendeu que continuar a batalha não era seu intento – “Mas o que temos aqui...” |
Ela estava se redimindo? |
“Isso não é possível... Eu a ensinei a não ser fraca. Principalmente diante dos outros.” |
Ou havia se enganado? Começando a raciocinar de maneira diferente, compreendeu que o treinamento que deu para a jovem havia sim sido bom para o amadurecimento dela, mas acabou transformando-a em algo que não condizia com a natureza de Melody. Angelus; do latim, anjo. Antigamente existia um momento sagrado para os católicos. O Angelus era uma oração da Igreja em honra a encarnação do Salvador, e que também reconhecia a fé e humildade de Maria, mãe de Jesus, ao ter dito sim ao anjo Gabriel. Este mesmo Gabriel era o Angelus – o anjo que dava o nome a oração. Aquele era um codinome perfeito para Melody. E Corey contestava isso novamente, ao ver que a antiga Melody não havia sido sepultada; e se havia sido sepultada, ela agora milagrosamente era liberta de seu esquife, onde havia sido presa em algum ponto dos quatro anos. De pouco em pouco, o mentor da telepata ia aceitando o rumo que a jovem desejava seguir. Suas palavras eram cheias de uma convicção pura, e como desonrar aquilo, deixando de aceitá-las? Ele se afastou, segurando na mão a foto de Jacob Palmer, e dando espaço para que as mulheres se entendessem. O ponto alto de tudo aquilo foi quando Melody pedia não só perdão à Dominique, mas também abria os braços, claramente convidando-a à um abraço. Ele virou a cabeça para o outro lado, e deixou escapar um sorrisinho. |
“Tem coisas que não dá para mudar.” |
Pierre- Mensagens : 16
Data de inscrição : 18/10/2018
- Mensagem nº7
Re: A New Partnership
Melanie aprendeu nesses últimos anos a ser dura. Fria. A não transparecer sua fraqueza, como talvez fizesse antigamente. O tempo havia tornado ela uma pessoa má. Paredes haviam sido levantadas ao redor de seu coração. Ressentimento. Fúria. Vingança. Rancor. E ela estava ciente daquilo tudo, e pior: Lutava para ter mais daquilo. Para a vidente, aquilo era se tornar forte. Bastou uma pedrada só. Quando Scott comparou a mutante com ele, Melanie vacilou em seu coração. |
“Parecida com quem?” – mas ela já sabia com quem o traficante havia lhe comparado. |
Ela ficou perturbada. Sentiu raiva de Owens. |
“Eu não sou digna” |
A garota aparentou mais fragilidade, diante daquelas frases que pareciam desconexas à princípio. O cigarro ajudava a dar uma pinta de auto-controle à figura de Owens. Até o nome de Derrick ser citado. Apreensiva, ela deixou seu lado frágil de lado por um instante, procurando absorver o máximo possível do que Scott estava falando. Ele falava sobre si mesmo. Abertamente! E a vidente respeitou tudo aquilo. Naquele momento, estava aprendendo sobre Owens algo que suas visões não podiam ensinar. O cigarro agora jazia no chão, um filete minúsculo de fumaça saía de sua pequena brasinha. Quando o traficante desceu por um escuro lance de escadas, Melanie fez questão de pisar em cima do cigarro e apagá-lo de vez; depois seguiu Scott. Ela havia tornado-se completamente passiva, pelo menos por enquanto. Seus grandes olhos claros vasculhavam o lugar escuro, de primeira vendo silhuetas mas depois vendo as estantes, o quadro com os disjuntores, os apetrechos de limpeza... E as caixas de papelão. |
“Para que servem...” – seu dom começou a cintilar. |
- Scott... Não é possível... – suas palavras saíram fracas – Você é como eu? Como nós? – disse ela, abrangendo naquela frase Melody, Corey, Derrick, e os mutantes que conheceu. |
Pelo quê ele já havia passado? Como havia sido sua vida? Muito mais perplexa que antes – agora sem controle sobre as expressões que automaticamente tomavam seu rosto, e os sentimentos que tomavam o seu coração, ela estava sofrendo um minding blowing. |
- Não é possível, era você! Era você o contato do Derrick naquela dia! Mon Dieu! – De repente, Owens havia conquistado ela. Se ele era amigo de Derrick, então podia ser seu amigo também. Em pensar que eram pra ter se encontrado à mais de quatro anos atrás! |
Melanie levantou os olhos para Owens, abismada com aquilo tudo. Seus palpites estavam certos: tinha encontrado a pessoa ideal. Tinha que ter encontrado ele naquela noite. Scott Owens era a peça que estava faltando no quebra cabeça. Ele se aproximou mais, e a vidente pôde contemplar o rosto sereno do traficante. De repente não sentiu mais raiva dele. Não queria mais menosprezá-lo, ou fazer mal à ele. Mas e a sua conduta? E os males que desejava fazer aos outros? Tinha que se vingar de tanta gente... Quando Owens depositou a mão em seu ombro, a garota, que era mais baixa que ele, levantou um pouco os olhos e o rosto para mirá-lo bem na face. Não havia mentiras no que ele dizia. Seus poderes proféticos não apontaram nenhum aspecto falso nem no sorriso, e nem nas palavras do traficante. Ela colocou a mão por cima da dele, e apertou de levinho. |
- Owens... Eu quero ficar com você. Eu quero, eu preciso fazer isso. Fazer parte disso. Ajudar os nossos irmãos. Nesses quatro anos eu só sofri e premeditei dor para os que me fizeram sofrer... – ela conseguia dizer aquilo sem chorar. Por que o seu coração estava sorrindo, e estava no caminho certo pela primeira vez, em anos – Mas está ao nosso redor um pedacinho do que o Derrick foi. – com a outra mão, a que estava livre, ela tocou o peitoral de Scott, sobre o coração dele – Tá aqui outro pedacinho do que ele foi também. Do legado que ele deixou. |
- Eu sepultei o que o Derrick ensinou para mim, e quis me vingar de todos que fizeram mal à ele... E meu intento era todo voltado para malefícios, mas agora, surgiu algo diferente... |
- Eu quero ser... Bom, pelo menos tentar ser como Derrick foi. Como você é. Mesmo que do meu jeito errado... Mas eu quero fazer a coisa certa. |
Marcus- Admin
- Mensagens : 54
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- Mensagem nº8
Re: A New Partnership
Percebe também um pouco de tristeza... Talvez Melanie imaginasse como seria aquele desdobramento da realidade onde Owens chegaria a tempo, resgataria Derrick e suas aliadas e fugiriam daquela fortaleza que estava fadada à destruição total. Poderiam escolher uma nova morada, como a fortaleza Cleópatra, com suas dunas artificias, fontes quentes e paraísos fiscais. Talvez se juntassem ao exército de Maximale Sicherheit a fim de continuar batalhando pela causa mutante... Ouviu dizer da garota que comandava uma resistência do lado de dentro da fortaleza. Ela proporcionaria chances factíveis de batalha e, quem sabe, uma possível vitória. |
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