Identidade X

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Grandes corporações, mutantes e a humanidade despedaçada. Bem vindo ao Identidade X, um fórum de RPG interpretativo com elementos de ficção científica e fantasia.


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    Mensagem por Marcus Qua Jan 02, 2019 10:36 pm

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    Mensagem por Marcus Sex Jan 11, 2019 12:04 am

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    27 de Abril de 2066


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    Base da American Iniciative – Sala de Reuniões  – 2.42pm

    Era estranho ter todo aquele espaço para ela. Sentia-se rainha num reino sem súditos. Logo, ela percebe como toda ação depende da aceitação da sociedade, bem como da necessidade de contrariá-la. A verdade é que nada na história foi realizado de forma alheia ao pensamento do ser humano comum, do espectador que apenas usufrui ou sofre com as consequências. Um ditador quer seguidores para serví-lo e inimigos para matar. Um rei deseja um povo para governar. Um presidente precisa de um país para comandar. Nada existe sem a sociedade, e isso dá um poder imenso à ela... Um poder que ela sequer sabe que possui.

    Com a American Iniciative, não havia de ser diferente. Se não houvesse um problema, o grupo não teria surgido. Se a partir do problema não brotasse um ideal, dificilmente possuiriam um objetivo. E, se não houvesse um povo, sequer teriam uma razão para seguir em frente. Era tão contraditório ela comparar o povo a gado, a cabeças de bois prontos para serem sacrificados, que prefere desvirtuar aquela linha de raciocínio para que sua existência não representasse agora um paradoxo não solucionável.


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    - Pontual como sempre.

    O LED pisca, indicando uma transmissão prestes a iniciar. Ao lado dele, desdobram-se duas paredes de aço com filetes em neon que iluminavam a sala. Esta, desenhada em formato circular, era adornada por diversas mesas e telas, todas transparentes. Por fim, na região central, encontrava-se a mesa principal, com espaço para doze cadeiras. Feita de vidro e metal, a mesa revela-se um desdobramento do telão. Assim que ele pisca, dois botões aparecem na superfície da mesa; um com a opção de aceitar, e outro com a de negar a transmissão. Claire leva o indicador até o botão situado à esquerda, em tom verde, e arrasta-o para cima, permitindo que a comunicação fosse iniciada.


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    - Espero que esteja trazendo boas notícias.

    Como a comunicação se baseava apenas em áudio, o LED exibe o logo da American Iniciative, que outrora fora conhecido como o escudo da Força Aérea Americana. Talvez uma falta de criatividade por parte dos precursores de Michael e Claire Grayson, porém havia uma razão para aquilo que tocava fundo no coração de cada um deles. Era uma memória tão especial que Claire preferia ignorá-la sempre que podia, a fim de não demonstrar a fragilidade que se esforçava tanto para esconder.

    O relato era finalizado, e gerava em Claire um sorriso de satisfação. Após agradecer o contato e encerrar a transmissão, segue para fora e passa por um corredor estreito. Acessa um salão amplo e vazio, para enfim atingir a ala leste do prédio. Deixa para trás cômodos simplórios como cozinha, banheiros e uma placa de sinalização com o escrito G A R A G E M, e pára em frente a uma porta dupla com travas de emergência. Usa as duas mãos para empurrá-la e contempla uma sala ampla, com alguns balcões, ferramentas e meia dúzia de carros parados. Um deles, em especial, encontrava-se suspenso em um elevador. Abaixo dele, nota a silhueta de um homem magro e de estatura mediana. Ao se aproximar um pouco mais, vê as vestes rasgadas e sujas, além de algumas manchas de graxa no rosto. Entrega a chave de fenda para o rapaz antes que pedisse por ela, cruzando os braços em seguida.


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    - Desculpe interromper sua terapia, mas gostaria de informá-lo que minha parte do plano segue como o esperado. – Inclina o tronco para baixo, a fim de encarar seu interlocutor nos olhos. – Espero ouvir o mesmo de você, Mike.


    Última edição por Marcus em Qui Mar 14, 2019 11:52 pm, editado 1 vez(es)
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    Mensagem por Marcus Sáb Jan 12, 2019 12:19 am

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    Aquele barulho insistia. Já era a segunda vez que desmontava o motor, olhava peça por peça e, em seguida, montava tudo certificando-se de realizar fortes conexões entre as partes... E, quando girava chave e dava partida no carro, o mesmo ruído. Ao ouvir aquele som incômodo pela terceira vez, decide observar o carro por outro ângulo: posiciona-o sobre o elevador e aciona seu mecanismo para suspendê-lo. Com uma chave philips, remove dez parafusos da região frontal da suspensão e tira a placa de aço, podendo visualizar assim o interior do veiculo. Após alguns minutos de atenta observação, vê-se enfezado uma vez mais por não conseguir identificar o defeito.


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    - Hmph... – Ele ouve a porta sendo aberta, bem como os passos que avançavam em sua direção. – Claire.

    Tentando conter o sorriso ao perceber se tratar de sua irmã, Michael volta a encarar a suspensão do carro, como se estivesse muito concentrado a ponto de não perceber a presença de Claire. Parecia bobagem, mas ela apreciava essas pequenas vantagens como se esgueirar sem ser percebida ou dar a última palavra numa discussão. Em muitos aspectos, era mais madura que ele, mas, no quesito social, carecia de cordura.

    Claire desfere um cruzado de direita em forma de provocação ao questionar a eficiência do irmão, e torna tudo mais afetuoso ao chamá-lo de Mike no final de sua colocação. Sabendo que a irmã gostaria do que viria a seguir, porém fingiria se incomodar para manter a aparência fria, Michael se aproxima lentamente e a abraça, mesmo estando suado e com o rosto e a roupa sujos de graxa.


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    - Irmãzinha... – Como esperando, ela pede para se afastar, empurrando-o com os dois braços. Aquela reação gera mais um sorriso na face amigável de Michael. – ... precisa aprender a confiar em mim.

    Retira as luvas de tecido, colocando-as sobre um balcão de madeira. Em seguida, ativa o botão de desnível do elevador para descer o carro, dando por vencida aquela batalha. Era engraçado como Claire chamava aquilo de terapia a fim de provocá-lo, mas no fim das contas estava certa. Pelas últimas três ou quatro horas, sequer pensou em American Iniciative, Primatech ou o projeto Panchaea. Naquele período, existiam apenas ele, o veículo e o defeito a ser consertado – uma realidade muito mais simples do que a sua.


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    - Você sabe, não podemos apressar a perfeição. – Toca o ombro da irmã, pressionando a mão levemente sobre ele. – Mas fique tranquila... Ela nunca nos falhou, e não será agora que falhará.

    Sabia que sua visão otimista também irritaria a irmã, que preferia trabalhar com possibilidades mais realistas e, portanto, negativas. Ele, porém, construía pouco a pouco seu império com aquele jeito simples de enxergar o mundo. Não seria agora que mudaria.
    Pedindo licença à Claire, Michael sai da garagem e passa pelo mesmo salão que outrora ela atravessara. Ao invés de dobrar para a ala oeste, porém, segue por um corredor alternativo, que dava acesso ao complexo de quartos da base da American Iniciative. Chamar aquilo de complexo, entretanto, era generoso demais. Tratava-se apenas de um corredor com diversas portas exatamente iguais. Se Michael tivesse os mesmos olhos de Claire, consideraria aquilo um conglomerado de prisões.


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    - Toc toc. – Diz, num tom divertido, depois de parar em frente à segunda porta e nela bater. – Espero não estar atrapalhando...

    Ao invés da pessoa que estava do lado de dentro se dirigir à porta e abrí-la, um dispositivo biométrico surge na parede. Michael limpa a mão na calça jeans e aproxima o dedo indicador do sensor. Em seguida, aproxima o olho direito da porta, e o infra-vermelho faz a identificação de sua retina. Um estalo é ouvido depois, indicando que a jaula estava aberta. Com cuidado, Michael empurra a porta, evitando fazer barulho. Quando tem espaço suficiente para colocar sua cabeça entre a porta e o batente, espia a região interna da sala e semicerra os olhos por conta das bochechas que se contraíam em mais um sorriso.


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    - Fico feliz que não esteja dormindo. Sabe que odeio te acordar. – Adentra a sala e dá as costas para a porta, que fecha sozinha. O cômodo tinha aproximadamente dezesseis metros quadrados, e era composto por uma estante, uma cama e uma tela de plasma transparente, além de alguns quadros simples que decoravam as paredes. – Peço desculpas pela cobrança, mas... Claire está cobrando resultados. Já obteve algum avanço na busca, Sheeva?
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    Mensagem por Pierre Ter Jan 15, 2019 2:22 am



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     Na literatura, era sempre muito romântica a vida de um vampiro velho. Eles sempre estavam vivos à muitíssimos anos, e conservavam suas personalidades através do passar das eras, sendo relíquias num mundo evoluído.

        Era mais difícil para Sheeva se lembrar dos primeiros vinte anos de sua vida, do que de todos os outros quinhentos e vinte nove. Dos quinhetos e vinte e nove, ela conseguia se recordar bem. Não fugia da sua mente as primeiras duas centenas de anos vivendo como nômade pelo litoral da África, conhecendo várias tribos. Fazendo vários amigos. Sendo presenteada com a paixão de alguns amantes, em especial. Até então, viver pra sempre era difícil. Que motivo a vida possuía? Desde o início o homem luta para conquistar uma carreira bem sucedida, gasta dois terços da vida para conquistar sua paz e termina a vida desfrutando do que semeou – tendo sorte. Mas e se um homem pudesse viver para sempre? Ele lutaria para se tornar o homem mais rico do mundo? O mais sábio? Ou o dominante sobre toda a raça humana?
    Na vida de Sheeva, ela não optou pelas riquezas. Vivia preocupada somente com o presente. O futuro parecia não estar em suas mãos; sempre pareceu que era ela quem estava nas mãos do futuro.

       Ela passou duzentos e vinte cinco anos vivendo segundo o ritmo do rio. Como uma pessoa normal teria vivido: desfrutando a existência. Nada de tão grandioso. Nômade, ela passava um determinado tempo com um grupo de pessoas, ou uma tribo. E quando passava tempo demais junto deles – tempo o suficiente para ser descoberta – desaparecia. Porém mesmo com essa vida difícil, conseguiu ter famílias. Filhos. Esposos. Amou, e foi amada. Quantos ela não velou, na sepultura? Era como uma maldição. Às vezes parecia que não ia aguentar; mas ao mesmo tempo, queria viver mais.

    O que determinou o rumo de sua vida foi voltar ao Egito. Foi na época que Napoleão invadiu o lugar. Aquele foi seu primeiro contato com o mundo ocidental, e ali no tão modificado Egito conheceu Joseph, membro seleto do círculo social de Napoleão. Ele a levou para a França, e Sheeva viveu uma vida de glamour. Parecia o ápice, não? Para muitos, aquele era o estilo de vida ideal: se é pra ser eterno, que seja com riquezas. Mas foi naquele momento que ela teve o primeiro contato com uma seita misteriosa... Que procurava pessoas mágicas.

    Os anos se passaram, chegou a época que precisou fugir para não ser descoberta: fugiu numa noite, e deixou Joseph para trás. Muitos anos se passaram. E ela vivia esse ciclo nômade. Porém agora tinha uma diferença. Finalmente encontrou um motivo para a sua longa vida. Se dedicaria à encontrar aquela seita, e descobrir seus intentos.

    Veio a Grande Guerra, e a mutante procurou se infiltrar no governo, sem sucesso. Só na Segunda Guerra Mundial é que ela conseguiu: encontrou uma base nazista, cheia de cobaias humanas. As pessoas mágicas existiam, e lá estava cheio delas. Eram mutantes. E a seita queria descobrir de onde vinha aquela anomalia na genética deles, para poder isolá-la e manipulá-la, e usá-la ao seu próprio gosto. Por isso, eles estimulavam as cobaias com métodos diversos e terríveis. Sheeva descobriu essas coisas por que foi presa, e identificada como mutante. Sofreu várias torturas, e passou por vários procedimentos médicos. Eles não só queriam descobrir sobre a mutação, como queriam descobrir como criar um mutante.  Seu dom de viver lhe permitiu que sobrevivesse àquele inferno até o momento em que o império do presidente da seita daquela época, Hitler, ruir. Depois disso fugiu. Pelo menos parte do seu intento foi cumprido: descobriu a seita e o plano dela. E outro benefício: por ter sido uma cobaia, os experimentos lhe deram uma segunda mutação.

    No século XXI, a seita estava mais poderosa e cuidadosa do que nunca, graças à tecnologia. Nesse século, Sheeva não conseguiu muitas informações sobre eles, apenas sobre os rumores do que de fato acontecia na Área 51. Nada de alienígenas: mutantes eram mantidos lá. E a mídia cumpriu bem o seu papel, acobertando a Área 51 e apresentando os mutantes para o mundo sobre o formato fictício de personagens de histórias em quadrinhos, desenhos e filmes.

    Porém muitos anos depois, a seita finalmente se mostrou, como um vulcão em erupção. Quanta desgraça! Quanto horror! Ela surgiu com o nome de Primatech. A mutação foi lançada sobre o mundo como um vírus, e muitas pessoas normais se tornaram mutantes. Pior: a Primatech expulsou a maioria deles das metrópoles, a grande maioria deles, construiu fortalezas para os não contaminados, e se promoveu a nova dona do mundo, e sua salvadora. Com sucesso.



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    “Mas o jogo está prestes a mudar.”


    O futuro era mesmo formidável. Sheeva nunca imaginou que surgiriam tantas organizações que se ergueriam contra a Primatech; que os reclusos do Outro Lado lutariam pelas suas vidas; e que até mesmo inimigos à parte surgiriam do nada, como a mulher que tomou a fortaleza Save The Queen para si.
    E a American Iniciative era um dos novos oponentes do império da Primatech. Parecia claramente oposta a Primatech. Possuíam ideais fundados sobre alicerces nobres. A sombra de um país orgulhoso, que se ergueu e reuniu forças, para participar do jogo de poder. Tão ousada que foi capaz de seqüestrar Sheeva Rakshala, vista como muitos como líder dos abrigos do Outro Lado. Na verdade, Sheeva era dona de um grande grupo de abrigos, cujo principal propósito era ajudar os demais abrigos necessitados. E por se tornar uma figura tão presente numa causa tão justa, acabou ganhando status que, segundo a própria humilde Sheeva, não eram necessários.

    Mirando o seu reflexo frente ao espelho, Sheeva observava seus olhos, duas jabuticabas misteriosas. Recordava-se do dia que Michael Grayson matou dois de seus amigos, invadiu sua casa/base – uma delas – e a abduziu.
    Ela era A Lista.
    Em sua poderosa memória, Sheeva guardava os dados de todos os mutantes que existiam, e até dos que já haviam morrido. Por isso, tornou-se prisioneira dos Grayson havia quatro anos. Eles queriam algo de si. Mas... Havia algo de errado. Durante esses quatro anos, os progressos que haviam obtidos da parte da mutante indiana não haviam sido muitos. E os que haviam sido conquistados, pareciam ter sido meramente entregues por ela, como se aqueles dados, em especial, não fossem mudar nada. E de fato: não mudavam.
    Sheeva era mesmo prisioneira deles? Ou eles eram prisioneiros dela?
    No Outro Lado, havia um exército poderoso pronto para resgatar sua líder sequestrada. Então por que ela continuava ali? Por que permanecia no jogo dos Grayson?

    Quatro breves anos. Quatro curtos e pequenos anos haviam se passado na longa vida de Sheeva Rakshala. Ela era mantida num quarto confortável pelos Graysons. Tinha acesso ao que desejava, parecia estar passando férias num hotel de luxo. Quando desejava algo que não tinha em seu quarto, pedia e eles lhe dava, Às vezes sentia vontade de pintar, e pedia telas e tinta à óleo aos Graysons. E teve até um dia que presenteou Michael Grayson com uma pintura super realista. Na tela, tinha retratado Claire e Michael. Sheeva fez questão de retratar no rosto de Michael, na pintura, o sorrisinho traquinas que o homem tinha. Era uma das características mais marcantes dele.

    Naquele quarto tinha até uma tela de plasma! Preferia ela do que as holográficas. Dos canais limitados da tv, a última notícia que mais chamou a atenção foi a morte de Amélia, presidente da Primatech. Não ficou comovida. Testemunhou a queda de Napoleão. Depois dele, Hitler também foi derrubado. A Primatech era fria e seletiva quanto aos seus líderes: se eles não fossem eficientes, caíam.

    Passos. Pelo ritmo dos passos, era ele. Encerrando a sua reflexão, ela colocou a mão frente à torneira da pia e água fresca saiu dela. Lavou seu rosto, enquanto ele falava à porta – ouvindo cada palavra claramente, e depois secou-se. Como sempre, com muita calma, a morena saiu do banheiro e voltou para o quarto, sentando na cama, de frente para a porta que ia ser aberta. Ela naturalmente mantinha-se séria, era de sua natureza, mas não negava algumas risadas quando algo engraçado lhe era apresentado. Antigamente, quando estava junto dos seus amigos, ela até fazia piadas .
    Ela estava suportando bem ficar sem eles. Sempre conseguiu suportar se afastar de quem amava. Mas e eles, como estavam lidando com sua ausência?
    Michael Grayson surgiu à porta. Quer dizer, só o rosto dele. E depois sorriu com os lábios e com os olhos.



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    - De fato. Minha última esperança de relembrar os meus primeiros vinte anos é que essas memórias surjam como sonhos, e eu as identifique... Depois de tantos anos, sonho com tantas coisas. Mas a esperança é a última que morre, não é verdade, Michael? – era por isso que ela não gostava de ser despertada; falava isso como um pedido de desculpas.


    Era estranho. Ela era gentil, apesar de tudo. Mesmo séria, e claramente estando na posição de vítima – ou o mais próximo o possível desse status, Sheeva não se comportava como uma vítima.
    Porém dependia da situação. Talvez fosse por isso que Michael Grayson era o responsável por cuidar de Sheeva. Claire era muito séria, e tudo que a American Iniciative não precisava era que a morena se voltasse contra eles. Então Michael, o que tinha mais tato, mais sensibilidade, lidava com o que parecia a tarefa mais frágil: ele literalmente negociava com a Chimera.
    Logo que ele abriu a porta, o ar trouxe o cheiro perfumado do corredor, e junto o odor de graxa e suor que vinha de Michael. Ele, por fim, entrou no quarto e a porta se fechou. O cheiro tomou conta do ambiente: pelo menos para os sentidos aguçados dela.



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    - Michael... Você estão procurando uma agulha no palheiro. Essa expressão é velha, não sei se você vai entender. Estou querendo dizer que você está procurando uma concha na areia da praia. – Ela sorriu, e desistiu; Michael provavelmente também nunca teve a chance de visitar uma praia, procurar conchas na areia e nadar na água salgada: o homem destruiu a natureza. Porém Sheeva viveu aquelas eras – Certo. Essa você também pode não entender.


    Então, a grande Sheeva pareceu insegura. Seus olhos castanhos se desviaram para um canto do quarto, enquanto ela penteava a cascata negra de cabelos com os dedos, colocando uma grossa mexa para frente, sobre o seu ombro direito. Ela desceu até a cintura da morena.
    Seus olhos voltaram depressa para Michael.



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    - Eu ainda não o encontrei. Está sendo difícil lembrar do hidrocinético... Como vocês sabem se o X-99 está vivo ainda? As estatísticas de encontrá-lo são muito complicadas. Nos últimos dez anos ele não manteve um padrão, ele mudou-se constantemente de lugar a lugar, praticamente como se não quisesse ser encontrado. E à julgar por suas habilidades, ele pode sobreviver em praticamente todos os ambientes.


    Há muito tempo, Sheeva havia identificado quando os outros estavam mentindo. Principalmente depois de poder assimilar habilidades animalescas. Com estas, ela podia observar melhor as atitudes de quem mentia. Ouvindo as batidas do coração, media a dilatação das pupilas. E depois de tanto tempo, até mesmo trejeitos entregavam o mentiroso.

    Mas o que entregava quando Sheeva mentia? Quais truques uma mulher de quinhentos anos podia usar para mentir para alguém? A aura ao redor do feminino já era poderosa; mulheres eram conhecidas por grandes feitos, e até por serem superiores aos homens. E quando se tratava de uma mulher com quinhentos anos de experiência, o quão poderoso o feminino nela podia ser? Não dava pra saber se Sheeva estava mentindo ou não. Entretanto, se ela estava mentindo...

    Por que o faria?



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    - Sente-se – disse ela, levantando da cama e apresentando a mesma para Michael sentar-se, caso estivesse com vontade.


    Ela não se importava com o fato dele estar sujo de graxa. Sheeva era um paradoxo: às vezes, era apegada a detalhes. Outras vezes, não. O que ninguém entendia, é que na verdade a mulher diferenciava uns detalhes dos outros, preferindo uns do que os outros.
    Ela foi até a geladeira, e pegou uma jarra de suco sintético de morango. O original era azedinho – ela preferia o original, mas em forma de vitamina, ou uma saladinha com leite condensado. Já os morangos daquela nova era tinham um gosto diferente: haviam sido modificados para melhor agradar a sociedade. Um pecado, para Sheeva. Deus havia feito o morango perfeito, afinal.
    Mostrou a jarra à Michael, oferecendo a ele.



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    - Mas como estávamos conversando – dizia Sheeva, enquanto enchia o seu copo de suco – Eu posso fornecer a vocês informações sobre os últimos paradeiros do X-99. Pelo menos assim você e Claire podiam traçar ao menos uma rota, ou cercar uma região em busca dele.





    Última edição por Pierre em Qua Fev 06, 2019 1:33 pm, editado 1 vez(es)
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    Mensagem por Marcus Dom Fev 03, 2019 1:25 am

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    Silêncio. Como um espectador que assistia o clímax da mais premiada peça de teatro, Michael observa com atenção toda a movimentação de Sheeva. Seus dedos, quando acariciavam o longo cabelo liso, inclinavam-se para baixo, quase tocando a palma da mão. Era tanta graciosidade que faz um paralelo com um músico talentoso dedilhando uma harpa com movimentos firmes, delicados e exatos.
    Sheeva também busca pelo suco, e parece entender a falta de retorno por parte de Michael como permissão para serví-lo também. Como Jesus, que um dia lavou os pés daqueles que lhe eram submissos, Sheeva despeja o líquido no copo de Michael, para depois colocar um pouco para si. Por fim, senta, e convida seu anfitrião a fazer o mesmo. Depois de todo aquele ritual, medido cautelosamente para dar veracidade ao que diria a seguir, a mutante revela o que descobrira sobre o mutante X-99.
    Nada.


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    - Lamentável. Imagino que deva ser bem difícil mesmo. – Contorce os lábios, deixando-os mais finos do que naturalmente eram. Enquanto isso, Sheeva sugere uma alternativa: compartilhar os últimos paradeiros de X-99. – Hm... É uma boa ideia! Sim, talvez, se pudéssemos andar pelos caminhos que X-99 trilhou no passado, o encontraríamos.

    Levanta. Calmo, ele pega o copo contendo o suco sintético e o fita por alguns segundos. Paradoxalmente, pressiona o objeto com tamanha violência que o vidro se estilhaça, penetrando a palma de sua mão e caindo displicentemente pelo chão. Levanta o antebraço, olhando a palma da mão machucada, e sorri. Meneia a cabeça negativamente, como se reprovasse o que acabara de fazer. Volta suas atenções para Sheeva.


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    - Desculpe. Eu acabei sujando seu quarto. – Recolhe a mão. Era possível ver sangue se misturando ao pouco do suco ainda presente na palma. – Vou pedir para limparem, ok? Ou melhor, eu mesmo me prestarei a esse papel. Nada mais justo, não é?

    Desabotoa a jaqueta jeans lentamente, revelando por baixo uma camisa básica de cor branca. Retira a blusa delicadamente e dobra-a duas vezes de ponta a ponta, para que adquirisse um tamanho menor. Em seguida, joga-a sobre o suco e os pedaços de vidro caídos no chão. Coloca-se de joelhos e, com a mão esquerda - a que não machucou - faz movimentos circulares com a blusa para limpar ao menos superficialmente aquela bagunça.


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    - Seria triste. – Detém o braço que limpava o chão. Olha para Sheeva. – Seria triste se findássemos com a existência de um ser que foi agraciado com o dom da vida e do tempo.

    Ainda de joelhos, apoia o corpo nas pernas, mantendo a coluna reta. Coloca as duas mãos entre as coxas, o que faz o que mais sangue goteje no chão que acabara de limpar.


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    - Me responda, Sheeva: de que adianta termos um celular que não faz ligações? Ou uma tevê que não exibe uma imagem sequer? É mais fácil jogar tudo isso fora e substituir por algo que funcione. – O sorriso fica ainda mais simpático, gerando nas bochechas de Michael rugas conhecidas popularmente como covinhas. – Sua existência depende diretamente de sua utilidade. Enquanto desempenha seu papel como A Lista, é mais do que bem vinda em meu mundo. Deixe de fazê-lo...

    Cerra a mão machucada com força, fazendo o braço tremer e ainda mais sangue cair.


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    - ... e não me sentirei mal em arrancar seu coração com minhas próprias mãos e sentí-lo pulsar no mesmo ritmo do meu. Também não me arrependerei de localizar cada um de seus seguidores e usar meus próprios dentes para degolá-los. – Respira fundo, como quem termina de contar uma história. – Será que fui claro? Desculpe, as vezes eu acabo me perdendo um pouco em meu próprio discurso. Não poderia ministrar palestras motivacionais, disso tenho certeza.
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    Mensagem por Pierre Qua Fev 06, 2019 1:59 pm



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    ___________




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    -... Michael, aproveite que você está de joelhos, limpando essa bagunça. – disse Sheeva, sem demonstrar nem um pouco de malícia em sua voz ou face, ou até mesmo no olhar.


    O olhar de Sheeva era sempre o mesmo. Os olhos que testemunharam várias vidas. Como seria o olhar de um ser humano que pudesse recordar-se de cada encarnação que havia vivido? Recordar-se de cada minuto passado? Ter à sua disposição as memórias de todos os momentos já vividos? Talvez, a vida se tornaria cansativa. Mas não era por esse motivo que os olhos negros de Sheeva eram pouco expressivos.



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    - A sua máscara caiu no chão também.


    Ele, que sempre fazia questão de manter as aparências, até mesmo estabelecer uma proximidade com a morena, agora expressava uma violência nunca mostrada dentro dos quatro anos. Já sentira ela ser contida em momentos vários momentos.  Como quando ele lhe consultava, e a morena dava como resposta detalhes vagos. Ele ficava irado, porém contido. Algumas micro-expressões entregavam-no. Mas no final, ele sempre sorria.

    Definitivamente, Michael Grayson era alguém sensível e paciente. Tanto tempo interagindo com sua prisioneira, esperando por uma resposta específica... Será que ele havia subestimado-a? Qual parte da equação estava errada? Que peça faltava no quebra-cabeça que Michael estava tentando montar, naquele quebra-cabeça que a quatro anos ele achou que iria montar com sucesso?

    Sheeva deu um gole no seu suco de morango, e depois ficou observando Michael. Seus olhos fitaram o braço trêmulo, o sangue escorrendo por entre os dedos do punho cerrado de raiva. A morena desviou a face, virando-se de costas para Michael e caminhando para longe dele, enquanto sentia a fofura do carpete com a sola dos seus pés descalços.
    Violência.
    Aqueles olhos negros, aparentemente apáticos, subiram pela parede, até encontrar a tela de plasma desligada.
    Violência.
    Fixando ali seu olhar, ela recordou-se de toda violência que já havia testemunhado. Que bela dádiva, a de viver para sempre. Lhe fazia enxergar a vida por completo, e não por pedaços. As eras que a humanidade passava eram os pedaços. Viver durante uma era lhe dá uma perspectiva sobre a vida, que dependia do clima da era em que você viveu. Mas viver várias eras lhe dava uma visão muito mais ampla. Ao longo de sua vida, Sheeva contemplou o ápice da violência humana, as Duas Grandes Guerras. As nações se retaliaram. Os mais fracos foram despedaçados. E os loucos dançaram na chuva de sangue.



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    - Tanto horror, Michael Grayson... Esse mundo viveu tanto horror... A violência é uma das faces mais feias que a humanidade tem para mostrar.


    Ela virou-se de volta, para olhar no rosto risonho de Michael.



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    - Ameaçar tirar a minha vida? – um sorriso educado surgiu nos lábios carnudos de Sheeva – E se tornar o diabo que perseguirá os meus seguidores? Olhe as suas palavras, menino. Elas são tão infantis! Sua reação, tão pura e sincera, revela algo muito importante sobre você...


    Depositou o copo de suco em cima da cômoda, e agora, Sheeva caminhava de volta para perto de Michael. Muito perto. Ela parou, e curvou-se um pouco, deixando sua face a centímetros do rosto dele. A cortina pesada de cabelos negros caia por cima do ombro esquerdo, pairando no ar. Podia sentir o hálito dele em sua bochecha, e respirar o hálito de Michael  também. Seus olhos negros, aquelas pérolas negras, escolheram um dos olhos azuis do homem para fitar.



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    -... Que você sabe muito pouco sobre a vida e sobre a morte.


    E então, segurou-o pelo pulso e convidou-o a ficar de pé novamente. Estando ambos de pé, Sheeva preservou a proximidade. Deixou aquela bagunça de sangue, suco de morango e cacos de vidro no chão. Aproveitando a jaqueta que o loiro havia tirado, escolheu uma das mangas dela, a mais seca, e pegou a mão que havia sido cortada pelos pedaços do copo. Usou o tecido como um pincel, passando-o levemente por cima do ferimento, deixando-o absorver o líquido vermelho que escorria, e tirar da ferida os pequenos vestígios de vidro.



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    - Eu li muitos poemas, escritos por homens sábios. Eles falavam sobre a vida e sobre a morte. Mas do que importou a inteligência e a compreensão deles? Não puderem resistir a vida e evitar nascer neste mundo, e tampouco puderam evitar a morte, que veio buscá-los. E o que eu, Aquela que Não Conheceu a Morte, posso dizer sobre eles? Digo, portanto, nada. Não sou mais especial que eles. Um dia, talvez eu morra, de fato, como você disse. E como eles, como você, a morte não me disse quando virá.


    A morena segurou a mão dele, colocou a manga da jaqueta encharcada de sangue na palma da mão do loiro, e depois fechou sua própria mão, que estava por debaixo da dele, obrigando ele a fechar a dele também. Mas o fez com leveza, como se dissesse: mantenha pressionado, mas não com muita força.
    Depois disso, Sheeva se afastou. Jogou os cabelos para trás, e sentou-se na macia cama. Por alguns instantes, ela permaneceu silenciosa. Mirava a parede, e seus olhos pareciam passear no passado.
    Voltou seus olhos para o Grayson mais velho.



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    - Eu nunca me esqueço. E existem ocasiões, que são imperdoáveis. Eu nunca vou me esquecer de você matando meus amigos na frente da minha casa.


    Percebeu, Michael? Amigos.
    Não seguidores.



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    - É o desejo que mantém a chama da vida acesa até que ela se apague, até que chega a hora que nem o desejo pode continuar sendo o seu combustível. Mas a chama da minha vida não se apaga: e os meus desejos, que são muitos, continuam a alimentá-la. – ela faz uma breve pausa para umedecer sua boca, e depois continuou – E com que propriedade você diz que irá me matar? Por que você não me matou naquele dia, junto com os meus amigos? Achou que sua investida e seus planejamentos iriam funcionar, ao longo dos anos? Mas eu estou acostumada com o passar dos tempos. E não pense à essa altura do campeonato em me torturar: eu também estou acostumada com a dor. Ela me visitou em muitos momentos, e sob muitas formas e estados diferentes. Sabia que fui torturada pelos nazistas? Sabia que já enterrei maridos, filhos, e filhas? E amigos? E agora, a revelação mais surpreendente...


    Sheeva mais uma vez umedece os lábios, agora semicerrando um pouco o seu olhar.
    Em momento algum ela perdeu o ritmo; a paciência, ou a compostura.



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    - Sabe quem veio me visitar diversas vezes, em vários momentos da minha vida? A Morte. Eu já olhei nos olhos dela, Michael. Eles são poços negros, no crânio daquela caveira. E na escuridão deles, habitam todos aqueles cujo respiro da vida já se foi. Mas ela não me ceifou com sua grande e curvada lâmina. Não colheu minha alma. Apenas ficou lá, me observando. No frio das montanhas, quando meu corpo estava entre os destroços de um acidente aéreo; nas águas do oceano, quando um naufrágio violento sepultou no mar uma das minhas famílias; no campo de batalha, quando entrei na frente de um companheiro, para meu corpo ser alvejado por tiros. Eu apenas fiquei lá, deitada. Meu tórax inflava e desinflava, com dificuldade. E do meu lado, a Morte. Agachada. Olhando os meus olhos abertos. Eu esperei que ela passasse seus dedos ósseos sobre os meus olhos, e os fechar para sempre; e eu iria para a escuridão dos poços da Morte... Mas não. Ela apenas...


    Deu de ombros, fazendo uma pequena pausa, como se para recordar bem dos detalhes de uma antiga amiga.



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    - Ficou lá, me observando, dando o seu sorriso de caveira, com o crânio envolto no capuz do seu manto.


    Em silêncio, agora ela observava Michael. O olhou dos pés a cabeça, e travou o olhar na mão ferida. Esperava que o loiro realmente estivesse fazendo aquilo que ela havia ensinado a fazer, pressionar um pouco o ferimento com o tecido; no mínimo reteria o sangue.
    Era incrível a contradição. Ela, que estava presa ali a quatro anos, não parecia ter pressa. Enquanto que Michael Grayson parecia correr contrar o relógio. De fato, ele tinha pouco tempo de vida para viver – da perspectiva de Sheeva, claro. Imaginava-se presa ali até o dia em que ele viesse lhe visitar, com os cabelos grisalhos, e rugas em seu rosto acompanhando o sorriso traquinas. Mas não, Sheeva não podia perder esse tempo. Afinal, enquanto Michael envelheceria e ficaria decrépito, o mesmo aconteceria com os seus companheiros, nos abrigos.

    Levantou o olhar da mão ferida de Michael, para o rosto dele. Depois de observá-lo um pouco, uma curiosidade antiga lhe tomou. Levantou-se, e foi até ele. Parou à sua frente, e levou a mão ao rosto dele com suavidade.  E no semblante dela, tristeza.



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    - Por que, Michael? – passava o dedo sobre a bochecha e maxilar dele, sentindo a barba que começava a crescer – Você precisa disso? Realmente precisa alcançar este extremo? Vocês são uma organização tão grande... Me deixem em paz. Eu, e todos os outros miseráveis. Nossa vida já é difícil o suficiente.

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    Mensagem por Marcus Dom Mar 03, 2019 4:30 pm

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    A resposta de Sheeva é exatamente oposta à de Michael. Enquanto ele a ameaçava com violência, ela se aproxima com esmero e cuida de seu ferimento, usando a jaqueta que outrora limpara o chão para gerar pressão em sua mão e, com isso, evitar que perdesse mais sangue. Michael sabia, entretanto, que aquela era a maneira que ela utilizava para ameaçá-lo também. Com aquele gesto, Chimera deixava claro que, independente de seus esforços, Michael jamais conseguiria quebrá-la; estaria frente a frente com a face da morte, e lançaria a ela um sorriso terno. Os anos longevos e todos os obstáculos que fora obrigada a superar garantiram a ela uma inteligência emocional tão notável, que aquela poderia até ser sua mutação, a característica que a colocava acima de seres humanos frágeis e comuns. Mas não... Além disso, teve a benção da vida eterna, a capacidade de localizar todo e qualquer mutante e o poder de mimetizar animais. Era uma adversária digna de nota.


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    - Entendo... Quer dizer, não, não entendo. Sequer consigo imaginar as numerosas adversidades que precisou superar. – Seu discurso era longo e fascinante. Michael se via tão envolvido com a história de Sheeva, que parecia ser a primeira vez que a escutava, apesar de já conhecê-la nos mínimos detalhes por conta de todo o estudo que fizera em torno daquela que representou a primeira missão da American Iniciative sob seu comando. – Mas compreendo que elas definem a pessoa que é hoje. Não deve ter sido fácil sobrepujar adversários enquanto mantinha encontros frequentes e inevitáveis com a Morte.

    Depois de Sheeva posicionar a jaqueta dobrada sobre sua mão machucada, Michael coloca a outra mão sobre ela e mantém a mesma pressão outrora exercida por Rakshala.


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    - E é doloroso presenciar a queda de seu próprio povo enquanto tenta manter as forças para continuar lutando. Quase ousei dizer que eles não tiveram a mesma sorte que você, mas foi mais que isso... Faltou determinação, foco e inteligência. Mesmo sendo agraciada pela vida eterna, você foi responsável pela sua própria sobrevivência, Sheeva. E isso é admirável.

    Interrompe-se e sorri. Se aproxima do monitor e liga-o pressionando um botão situado à direita da tela. Inicialmente, a tela exibe o logo da American Iniciative, mas logo uma interferência no sinal distorce a imagem e gera uma nova transmissão. Nela, é possível ver a imagem aérea de uma construção simples, composta por um telhado de madeira e paredes de gesso. Normalmente, as moradas do Outro Lado eram construídas com esses materiais por conta da escassez de matéria-prima no lado de fora das fortalezas. Madeira, cimento e gesso eram únicos apetrechos facilmente contrabandeados, enquanto outros mais modernos e eficazes tinham uma vistoria mais exigente e cuidadosa.

    O pôr-do-Sol indicava o fim da tarde, provavelmente o dia se aproximava das 7.00pm. Se o horário nas proximidades da base da American Iniciative era 3.13pm, aquela filmagem estava sendo realizada na região norte do continente europeu. Coincidentemente, aquele era um local onde a sociedade construída por Sheeva era bem difundida, com famílias abrigadas e bases militares que traçavam as próximas estratégias da milícia. Logo, apesar do alcance de Sheeva ser a nível mundial, aquele poderia ser considerado o marco zero de seu reinado.


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    - Fico imaginando o quão competente será na manutenção da sobrevivência daqueles que chama demagogicamente de amigos. Quais são suas prioridades, Sheeva? – Pára de olhar para o telão e fita os olhos obscuros de Chimera uma vez mais. O sorriso desaparece de sua face, dando lugar a um semblante mais sério. – Sabe que não posso me desfazer de você, pois dependo de sua capacidade de localização. Entretanto, não posso dizer o mesmo de seu povo. Penso na possibilidade de eliminá-los, a sequer tenho pesadelos à noite.

    Aproxima-se da mutante, desafiador. Apesar de ferido, sua altivez permanece imutável.


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    - Acredite, sinto muito ter que chegar a esse ponto. Nossa revolução fará algumas vítimas, mas jamais imaginei que seria obrigado a desfazer de meus semelhantes. – Falava a verdade. Por mais que aqueles mutantes fossem peças em seu tabuleiro e nada representassem, não gostaria de eliminá-los como um movimento no jogo de poder que disputava com Sheeva. – Sei, porém, quais são minhas prioridades... E, se as elencasse de cima à baixo, seu povo ficaria no extremo sul dessa equação.

    A câmera se movimenta, exibindo uma visão panorâmica e distante. Outras casas como aquela situavam-se nas proximidades, cercadas por um encadeamento de montanhas que tornavam aquela região o esconderijo perfeito. Entretanto, aquele local tinha seus revezes. Por exemplo, como as pessoas fariam para escapar de um ataque aéreo? As bombas seriam lançadas, atingiriam pontos específicos, o fogo logo dominaria toda a área e as montanhas engoliriam aqueles que quisessem lutar por suas vidas. Logo, incapazes de se salvarem, seriam obrigados a dependerem de Sheeva, que até hoje mostrou-se uma exímia sobrevivente.


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    - São trinta segundos. – Assim que diz isso, um timer surge na tela. – Trinta segundos separam essas pessoas de sua danação eterna. Entretanto, podem ser apenas trinta segundos corriqueiros em que correram um risco que desconheciam. Quem definirá esse desdobramento é você. – Volta a sorrir. – Onde está X-99?
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    Mensagem por Pierre Qua Mar 13, 2019 9:23 pm



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    - Não diga isso dessa forma... Dizer que faltou a eles determinação, foco e inteligência é, de certa forma, desrespeitoso. Cada um tem seus próprios limites. Você sabia? Nenhum tigre é igual ao outro. Cada um possui um padrão de listras diferente. Todavia, eu não gosto de glorificar-me. Louve-te o estranho, e não a tua boca. Agradeço seus elogios... Você estudou bem a minha personalidade.


    As palavras de Michael o entregaram, quando ele falou do povo de Sheeva. Talvez houvera algo em seu rosto também. Ou então, Sheeva já conseguia sentir o cheiro da maldade do seu anfitrião. Por que, apesar de Sheeva ter falado tão tranquilamente, e seus olhos passearem novamente inexpressivos através do quarto, um pequeno aperto no peito foi sentido quando Michael mencionara terceiros de forma tão peculiar.
    Como se eles houvessem perecido.
    E também cobrir a malicia original daquela frase com lisonjas foi um truque astuto. Ela não se deixou levar pela carícia daquelas palavras.

    O mais triste de tudo era que aquele homem não desistia de seu intento. Que intento era este, ao certo, Sheeva não compreendia – somente imaginava. Porém agora, ela podia elevar suas expectativas para um novo naipe. Demorou muito tempo. Sheeva não costumava demorar para decifrar um individuo ou uma organização, com os materiais certos, ou com a situação certa. Bastava ter as armas necessárias. Mas para decifrar o seu carcereiro, e a American Iniciative, a mutante precisou explorá-los ao máximo. Forçar o limite dos irmãos Grayson. Eles não lhe deixaram muitas brechas para interpretá-los. Mas agora Michael saia de perto de si, aproximando-se da tela que estava na parede, e Sheeva não pôde fazer nada além de olhá-lo. Pelas costas ela o observava, e era como se a sua sombra crescesse e finalmente ameaçasse tudo o que importava para si. Não adiantou implorá-lo para que lhe deixasse em paz, e aos seus amigos, seu povo.
    A maldade: finalmente a máscara de Michael Grayson e da American Iniciative caíam por terra, e a indiana tinha a sua conclusão. Agora, Sheeva precisava ser mais cuidadosa do que nunca.

    Enquanto seu algoz ligava a tela, Sheeva sentou-se na cama, como se fosse assistir a algum programa. E quando a imagem aparecia, um misto de alegria e tristeza lhe tomava. A alegria vinha por ver aquele lugar: o primeiro abrigo que Sheeva fundou, quando começou a ter de fato influência através do mundo. Foi ali que ela começou a exercer o que ela considerava a a sua vocação. Eram as primeiras imagens que via dos seus companheiros em tempos, o mais próximo que chegou deles em quatro anos. Então para ela, foi uma forma de matar a saudade. Ver que eles estavam bem confortou e aqueceu seu coração, e ela permitiu-se deixar nascerem lágrimas puras em seus olhos escuros, como se elas pudessem lavar alguma coisa que estava dentro de si. E aqueles olhos obscuros, inexpressivos e costumeiramente sem vida, por um instante, se tornaram jovens e cheios de brilho. Secou suas lágrimas. Ela não se importou de chorar na frente de Michael, apesar dele não merecer nenhum vislumbre da riqueza que havia dentro do seu coração.



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    - Pensa na possibilidade de eliminá-los e sequer tem pesadelos à noite... Mas também diz que sente muito que sua revolução tenha que fazer vítimas. Você é contraditório. Tente se controlar, Michael. Na sua ânsia por transmitir o pavor que você é capaz de gerar, você acaba tornando-se uma figura pouco temível. – alfinetou Sheeva.


    Desta vez, fizera de propósito e sem delongas. Talvez ela, que compreendia o passado, também possuía uma ampla visão do futuro e já estava consciente do que estava acontecendo. E por isso lhe vinha a tristeza.



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    - Seus semelhantes não representam nada para você, Michael. Se representassem você não colocaria a vida deles como moeda de troca. Você seria um líder justo e nobre, e se colocaria na frente deles para guiá-los, e não os guiaria lá de trás, manipulando o jogo de poder de forma suja. O líder que guia seu exército mandando-os na frente de si... Esse líder não tem poder. Não tem honra. É tangível e mortal. Alcançável. – um sorriso pequeno e orgulhoso surgiu no canto dos seus lábios – Você é assim, Grayson. Você e sua irmã.


    Não era comum Sheeva ser agressiva. Mas até que ela não usou um tom de voz muito rude. Ela foi macia na sua categorização dos irmãos Grayson. Foi como uma doce mãe repreendendo o seu filho.
    Depois disso, ficou em silêncio. Matava sua saudade, observando as imagens que eram mostradas na tela. Por alguns instantes, conseguiu sentir-se lá. Recordou-se do clima frio, desencadeado pela coroa de montanhas que abraçava o aglomerado de moradas. De como o sol não atingia as casas pelo início da manhã e do meio para o final da tarde. Recordou-se de Fabianne, sua bela amiga morena de cabelos cacheadinhos e negros, e olhos cor de mel. A família dela era linda. Ela era casada com Brian, um alemão com características bem nativas, e a mistura deles dois gerou três crianças lindas. Fabianne podia ver num raio de quilômetros, enquanto Brian era dono de uma força física desumana. Também lembrou-se da querida e velha Judith, uma meiga telepata que ajudava a todos com o que podia, servindo de psicóloga, terapeuta e psiquiatra.
    Todos morreriam pelas mãos de Michael Grayson, a não ser que Sheeva colocasse um fim naquela insanidade. Será que não havia outra escolha a não ser vender o X-99 para Michael e Claire? O timer não precisou descer um segundo. Sheeva não precisou de tempo para medir as questões na balança. Desde o início, quando ele citou a sobrevivência do seu povo, ela já havia escolhido sua resposta.



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    - Desligue esse timer agora, Michael.


    Ela havia feito a sua escolha.


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    - Eu te contarei onde está o X-99.

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    Mensagem por Marcus Sex Mar 15, 2019 12:12 am

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    Permanece cabisbaixo enquanto Sheeva finaliza sua réplica. Era como um garoto inconsequente que ouvia uma reprovação da mãe sem ter como se explicar ou justificar suas atitudes. Chimera provava categoricamente que Michael não estava pronto para ser um líder, que sua visão de mundo, além de não impor uma presença temível, o tornava contraditório e ingênuo. Em outras palavras, calçava sapatos grandes demais para os próprios pés.

    Apenas a voz de Sheeva podia ser ouvida. Michael fica quieto o tempo todo, sem nem mesmo encarar a adversária nos olhos. No momento em que ela pede para pausar o timer que controlava a longevidade das vidas de seus aliados, é quando a alma de Michael parece retornar ao seu corpo. Com as expressão altiva, caminha mais uma vez até Sheeva e fica a poucos centímetros dela. Pode ouvir sua respiração calma e o aroma cítrico presente em seu hálito. Sente também o cheiro amendoado presente nos fios de cabelo da mutante. Era agradável e, ao mesmo tempo, nauseante - como a própria Sheeva.


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    - Sheeva, Sheeva... Vejo que ainda não entendeu. – Levanta a mão que segurava um dispositivo eletrônico simples, com dois botões e uma tela escura. Ao pressionar um dos botões, a contagem que aparecia no plasma é interrompida. – Diferente de você, eu não me importo com nada disso.

    Aquele era seu momento de maior sobriedade. Não apenas carecia das características de um líder, como também não se importava em tê-las. Para Michael, o importante era vencer. Não perdia tempo se preocupando com o caminho que trilhava, e sim com o cumprimento de seus objetivos.


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    - De que adianta ser temido, sábio, justo... Um verdadeiro líder? – Enfatiza a última palavra, despejando ironias por trás de cada letra. – Você possui todas essas características e, ainda assim, é sobrepujada por mim.

    Michael aguarda as informações sobre o paradeiro de X-99. Assim que as obtém, prepara-se para sair da sala, sem antes deixar de pressionar o segundo botão presente no dispositivo que segurava. As imagens aéreas da base de Sheeva surgem uma vez mais na tela. O timer, presente anteriormente, dá lugar a uma nova sequência de números separadas por pontos: 01.03.2065. Uma data. A data que deixa evidente a falsidade naquela suposta transmissão ao vivo; a recém-revelada gravação que Michael usou para ameaçar Sheeva era de um ano atrás. Isso provava que a mutante estava correta quanto às diversas afirmações sobre a personalidade de Michael, mas não podia negar que o líder da American Iniciative transbordava uma característica específica: astúcia.


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    - Pedirei para trazerem seu chá de hibisco em breve, ok? – Faz uma reverência e sai da sala, ativando a tranca eletrônica em seguida. – Tenha um ótimo dia, senhorita Rakshala!

    Caminha pelo corredor que atravessou anteriormente para chegar ao cômodo de Sheeva. Segue pela ala oeste, encontrando-se em seguida na mesma sala de reuniões utilizada anteriormente por Claire para falar com um soldado da American Iniciative. Tinha um encontro marcado as 3.30pm com um colaborador, porém este não seria por audioconferência. A pessoa em questão aguardava Michael na cadeira ao lado da poltrona presidencial, que circundava, junto de outras onze cadeiras, a mesa principal.


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    - Três e trinta e dois... Perdoe-me, odeio me atrasar. Aliás, peço desculpas também pelo desleixo. Meu cachorro me mordeu. – Ignorando a poltrona presidencial, senta em uma cadeira aleatória. Exibe a mão machucada e sorri, sem jeito. – Sei que não é nada bom começar uma reunião com pedidos de desculpas, mas espero poder contar com seu auxílio para finalizá-la com boas notícias...

    Cruza as pernas.


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    - ... senhorita Santiago.
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    Mensagem por Marcus Sex Mar 15, 2019 12:55 am

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    Havia chegado há menos de trinta minutos. Assim que seu helicóptero particular pousou no heliponto da base da American Iniciative, foi recepcionada por dois membros do grupo que trajavam nada além de ternos pretos, impecáveis e asseados. Era como se alguém estivesse esperando por ela, e tentasse conquistar seu apreço nos detalhes de um cenário não tão convidativo. Situada numa região isolada e de difícil acesso, a base da American Iniciative era rodeada por um céu nublado e quantidades infindáveis de neve. Por mais que isso favorecesse o guarda-roupa de inverno de Rosario, preferia ver-se num ambiente mais tropical.


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    - Michael Grayson me aguarda. – Profere, assim que desce do helicóptero. Vestia uma longa capa escura e felpuda, que mostrava parcialmente as alças de seda do vestido presente embaixo. Completava o visual com sapatos scarpin pretos com solas vermelhas, luvas e brincos de diamante. O cabelo, por sua vez, estava preso num coque milimetricamente calculado para evitar um volume indesejado e fios rebeldes. – Levem-me até a sala de reuniões.

    Falava com aqueles homens desconhecidos no mesmo tom que usava com sua própria equipe de assistentes, a que chamava de empregados. Não faltava com respeito ou delicadeza, mas o tom de sua voz era tão seco quanto o chão gélido que abrigava a base da American Iniciative.
    Um dos rapazes, que não parecia ter mais do que trinta anos, estica o braço direito e faz menção para que Rosario o siga. Atravessam o heliponto até chegarem num elevador social. Acomoda-se em uma poltrona de veludo enquanto os andares eram ultrapassados. Uma vez presente no piso térreo, é guiada uma vez mais pelo homem para um amplo salão, seguido de um corredor indicado como acesso da ala oeste. Após o atravessarem, vêem-se numa sala composta por diversos móveis grandes e aparatos eletrônicos de última geração. Apesar de muito bem equipada, a sala era tida por Rosario como exagerada.


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    "Tentam omitir a falta de experiência com brinquedinhos superficiais. Não é uma boa primeira impressão."

    Aproximadamente dez minutos após se acomodar em uma das poltronas que circundavam a mesa, vê a figura de Michael projetando-se à sua frente. Mal vestido, sujo e ferido... O que havia acontecido? Era daquela maneira que iria recebê-la? Por mais que tivesse vontade de dar as costas para aquela criança, esforça-se para permanecer ali. Valeria a pena... Sabia disso.


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    - Não perca seu precioso tempo se desculpando com alguém que desconhece. – Recolhe-se, ferina e cautelosa. – Me permite começar?

    Após ter o aval de Michael, procede.


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    - Meu nome é Rosario Santiago. Sou uma negociadora com ampla experiência. Meu principal cliente foi a Primatech, e obtive para eles tudo o que me foi requerido. – Assim como seu anfitrião, cruza as pernas. – Os tempos mudaram. Sempre ficarei do lado dos vencedores, e isso não inclui mais a Primatech. Sendo assim, trago para a American Iniciative o maior trunfo que poderiam desejar.

    Uma terceira pessoa adentra a sala. O trunfo.
    Pierre
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    Mensagem por Pierre Ter Mar 19, 2019 8:08 pm



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    As portas do salão de reuniões se abrem, e o trunfo adentra o recinto.
    Ele dá alguns passos para dentro do salão, e as portas se fecham, enquanto ele mira os rostos de Michael Grayson e Rosario Santiago.

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    - Boa tarde, senhores. – disse Phobos, sorrindo triunfante.


    À alguns minutos atrás, o cientista Louis Von Lohengrim, conhecido por alguns como Phobos, divagava da janela do seu helicóptero. Podia estar com o fone nos ouvidos para ouvir algum possível comentário feito por algum dos homens que o acompanhavam, porém ele não queria conversar com nenhum deles, então o fone estava pendurado em seu pescoço. Apesar da antipatia, Phobos fazia questão de não ser interrompido durante seus devaneios enquanto viajava por um paradoxo: amava e detestava as viagens. As amava por que nelas, ótimas idéias surgiam; ele não era um mero cientista. Seu prazer não estava em descobrir coisas simples, como a cura de alguma doença incurável. Esses eram detalhes que caiam bem no portfólio, claro, portanto ele também as praticava. Mas para Phobos, a ciência era uma arte.
    Ele era um criador.
    O lado ruim das viagens estava sobre o fato de que elas o incapacitavam na hora de executar suas idéias, restringindo-o. Limitava-o a apenas ter idéias.

    Olhando pela janela do helicóptero, ele só via montanhas. A American Iniciative havia escolhido um terreno bastante ousado para fazer sua base. Louis olhava e admirava aquele tom tão puro do branco nas neves que cobriam as montanhas como se fossem suas vestes. O céu estava nublado, e dele caia uma branda cortina de flocos de neve.
    Em determinado momento, ele notou movimento dentro do helicóptero: era um dos homens, e estava acenando para Phobos colocar o fone. E Phobos o fez. Pelo canal de rádio interno do helicóptero, o homem o informou de que estavam chegando. Curioso, o cientista sentou-se em um dos bancos do outro lado do helicóptero, e olhou por aquela janela, vendo a base. Ela era enorme e também era cinzenta como as montanhas. Um desavisado poderia confundí-la com a paisagem.

    O helicóptero desceu. As portas se abriram e Phobos desceu do veículo. Sentiu-se muito mais à vontade lá fora. Ele parou por um instante, observando que havia um outro helicóptero presente no local. E também apreciando a paisagem: o vento açoitava seu rosto com chicotadas geladas, e os flocos de neve eram arrebatados violentamente pelo turbilhão criado pela hélice, que girava violentamente. A American Iniciative ganhava seu primeiro ponto positivo com o cientista: o lugar era lindo, e o clima, agradabilíssimo.

    Na entrada externa da base havia dois homens em seus ternos elegantes, e um deles se aproximou de Louis, que até então não havia se movido do lugar. A hélice já diminuía seus movimentos, desligada, e Phobos agradecia aos céus por aquele barulho infernal que o seguiu durante toda a viagem finalmente estar terminando. De uma forma ou de outra, depois que entrasse no recinto de Michael e Claire Grayson, não mais o escutaria.

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    - Senhor Von Lohengrim?


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    - Em pessoa.


    As suas expectativas eram muitas. Mesmo um monstro como Phobos tinha expectativas. Tinha sonhos. Será que sob a sombra da American Iniciative, o seu sonho finalmente se transformaria em realidade? Estava ansioso para mirar a face dos seus futuros patrões – patrões, sim, se tudo corresse como o esperado.

    E por que não correria? Ela estava envolvida. E se ela estava envolvida, as chances de sucesso eram de noventa e cinco por cento. Afinal, sua mais nova companheira de negócios não gostava de jogar para perder.

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    - Por favor, me acompanhe. O levarei até a sala de reuniões, onde o senhor Grayson o espera.


    E dessa forma, Phobos trilhou o mesmo caminho que Rosario havia trilhado anteriormente, até enfim chegar na sala de reuniões e encontrar-se com eles. Primeiro, seus olhos espertos e maldosos captaram a figura elegante de Rosario Santiago, quem ele já havia conhecido noutro momento, sob circunstâncias parecidas. E claro, agora não estava tão despreparado como havia estado anteriormente: havia feito uma pequena pesquisa sobre a socialite.

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    - Senhorita Santiago... Que agradável revê-la! – disse Phobos, num tom amistoso. Ele retirou o seu casaco chesterfield, e o pendurou na cadeira que havia escolhido para sentar-se, revelando que usava um terno chumbo por de baixo. Ele estava monocromático: sua camisa era negra. Nada de gravata, pois Phobos não gostava de gravatas.


    O tom amistoso de Phobos era claramente inspirado por seus interesses próprios.
    Mas quando olhou para o outro homem que estava sentado na mesa, o seu semblante descaiu, e ele sinceramente o analisou clinicamente, desprezando-o em seguida. Num último ato de esperança, ele olhou ao redor de si através da sala de reuniões, procurando o verdadeiro Michael Grayson, mas não achou nada além de serviçais. Que pena. Aquele homem era Michael, então. Todo sujo de graxa, trajando vestes comuns e ainda por cima com a mão ferida. Por fim, fitou-o.

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    - A batalha deve ter sido intensa, eu imagino. – comentava as características que compunham, naquele momento, o visual de Michael.


    Puxou a cadeira e sentou-se. Instintivamente, ele olhou ao redor, analisando a tecnologia da sala. Considerou aqueles aparatos uma poluição ao ambiente, e por fim concluiu que a sala de reuniões deveria ser muito menos bagunçada. A sala de reuniões ideal para Phobos não teria nenhuma aparente tecnologia – para quando a mesma se revelasse, fosse impactante – e teria uma decoração clássica, com direito a lareira e tudo.

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    - Perdoem-me por chegar atrasado, principalmente você, Rosario, que é sempre tão pontual em vários aspectos. Espero não ter perdido muito. – Então, o cientista virou-se para Michael e disse sem modéstia: – Como nunca nos vimos antes, acho digno uma apresentação, mesmo que não seja das mais festivas – embora que, sendo sincero, eu prefira assim. Eu sou Louis Von Lohengrim. Cientista, vamos resumir desta forma. Rosario Santiago pode ser considerada uma caça-talentos. Mesmo que eu costume fazer tudo nas trevas, ela de alguma forma me encontrou.



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