My Blood In Your Veins

- Fogo. – Disse num tom audível, porém sem gritar. Ela não gritava, não fazia esse tipo. O tom de voz era sempre calmo, por vezes dotado de gentileza, mas naquela ocasião não havia gentileza: havia uma seriedade tão grande que quem a olhava sentia medo apenas por ela estar séria. Então, como já se esperava, o fogo se fez presente. Ele estava presente, sempre estava presente. Mas o fogo cresceu numa proporção tão surreal que era quase impossível ter sido ateado apenas com tochas e combustíveis – aquilo só era possível por causa dela.

- Memoria é um insulto a nossa causa. Eles estão brincando com os nossos sentimentos, estão pisando nos nossos ideais. Não podemos deixar que se erga acima de nossos sacrifícios.

A voz dessa vez saía por um megafone, porém, com sua calma e serenidade habitual. Ela planejara aquela investida há meses. Estudara cada passo, seus informantes haviam se espalhado e observado por bastante tempo os líderes e o Xerife de Memoria, aquele era o momento ideal para o assalto: sem vítimas. Ela sabia, contudo, que não seria fácil.

Os rebeldes (como eram chamados pelos líderes de Memoria) estavam agitados e gritando em concordância e uníssono. Ao longe era possível ouvir frases como “Abaixo Memoria”. Logo, mutantes poderosos estavam usando suas habilidades para que o prédio central viesse abaixo. Aquilo era mais do que uma rebelião, era uma revolução.

Anthony Forbes era o seu braço direito, era sua pessoa de confiança. Ele figurava bem acima de todos graças a sua habilidade e por isso tinha uma visão privilegiada do que acontecia nos arredores. Tony era o seu parâmetro, se ele demonstrava sinais de que estava tudo bem, a empreitada continuava. Porém, observava o deslocamento do parceiro e sabia que havia uma razão para isso e não era das boas. Deu ouvidos ao seu instinto e seguiu na direção de Forbes sabendo exatamente o que lhe esperava.

- Não precisa levar ninguém a lugar algum, Tony. Estou bem aqui. – O pequeno grupo de pessoas estava mais afastado da multidão e da confusão que se seguia ao centro. Anthony Forbes dialogava com um irritado e agressivo Zachary Faraday. Mais atrás figuravam Nickole Duran e a criança. Emma ignorou completamente a mulher, contemplando apenas a criança chamada Nikita. Aquela era a primeira vez em muito tempo – não sabia sequer mensurar quanto tempo – que via a menina e ficou uns segundos ali olhando a pequena criatura. Ora, não lembrava sequer ter conhecido a sobrinha. Seus óculos escuros escondiam seu olhar, os presentes jamais poderiam dizer se ela olhava para a criança com ternura ou com amargura.